Na primeira parte do livro, o autor analisa Baudelaire, Mallarmé, François Villon, Shakespeare, Vitor Hugo, Tolstoi, Stendhal. Na segunda, o objeto é a literatura portuguesa e, na terceira, os temas e as personalidades enfocadas são variados.
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Este livro recolhe escritos dispersos do autor, divididos em três partes, das quais as duas primeiras contêm ensaios mais longos e a terceira, escritos breves. O ensaio que lhe dá o título parte da oposição entre duas modalidades de poemas: os que procuram registrar a experiência do espaço aberto como estímulo para representar a natureza, e os que se concentram nos espaços fechados, favoráveis à mente inventiva, que procura recriar a natureza. Sobre esta base, o ensaio chega às grandes tensões da criação por meio da análise de um poema de Mallarmé. Nos ensaios seguintes aparecem aspectos da obra de François Villon, o problema da impregnação entre textos, o registro da possível influência de uma excursão de Ernst Jünger ao Brasil, em 1936, sobre certos pormenores da sua obra máxima, Os penhascos de mármore.
A segunda parte é toda sobre matéria portuguesa, começando pelo registro da atuação em nosso país de obras e, em seguida, de intelectuais de Além-Mar, inclusive sugerindo que escritores do século XIX, como Eça de Queirós, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro tiveram aqui, até bem adiante do século XX, certa influência na radicalização do pensamento, convergindo com autores brasileiros mais recentes. A seguir Eça de Queirós é objeto de dois ensaios, o primeiro dos quais descreve a sua enorme voga no Brasil até a geração de Antonio Candido. O segundo propõe uma leitura de A ilustre Casa de Ramires, levando em conta o entrosamento orgânico do entrecho central e da narrativa elaborada pelo protagonista, além de discutir o paradoxo que transforma um assunto potencialmente trágico em narrativa amena.
Na última parte há oito textos bastante variados, começando pelo comentário de um livro que restaura a figura esquecida de José de Freitas Valle, o mecenas da Villa Kyrial, personagem-chave no movimento literário e artístico de São Paulo no primeiro terço do século XIX. Seguem dois artigos sobre Pio Lourenço Corrêa, fazendeiro erudito, meio excêntrico, grande conhecedor da língua, e sobre as relações de amizade que manteve com Mário de Andrade, cujo livro Macunaíma foi escrito na sua chácara de Araraquara. Lúcia Miguel Pereira é objeto do texto seguinte, que fala de uma coletânea de seus artigos críticos de 1931 a 1943. Segue uma evocação da estadia em São Paulo de Richard Morse no fim dos anos de 1940, quando este historiador estava preparando a notável monografia sobre a cidade e se integrando na sua vida cultural. Vêm depois a análise de Maíra, de Darcy Ribeiro, revelação no terreno do romance de um antropólogo e homem público, mais uma nota sobre a sua morte. Encerra o volume a apresentação do famoso conto “Malagueta, perus e bacanaço”, de João Antonio, obra-prima do que Antonio Candido chamou em outro escrito de “realismo feroz”.