Neste conjunto de ensaios Antonio Candido se volta mais especificamente para os aspectos literários do texto deixando em segundo plano a preocupação com questões de cunho social.
Em estoque
Salvo os artigos sobre Stendhal (1943) e Vinícius de Moraes (1971), os outros deste livro foram publicados entre 1946 e 1960. Nota-se neles certa atenuação do interesse pelas conexões de cunho social e político da fase anterior e maior foco nos problemas específicos do texto literário. Já é visível também a preocupação com a flexibilidade das abordagens, mais adequada para atender ao universo múltiplo das obras, preocupação que o autor definiria mais tarde como “crítica de vertentes”, para caracterizar o seu modo de trabalhar.
Análises mais tecnicamente configuradas são os artigos sobre Tomás Antônio Gonzaga, procurando deslocar a tradicional leitura biográfica de certo poema para o campo das influências literárias; ou sobre o soneto Sahara vitae, de Olavo Bilac, que serve inclusive para sugerir uma tipologia dessa forma poética; ou, ainda, sobre a presença da música na ficção, por meio da análise de pequenos trechos de Machado de Assis e Raul Pompéia. De modo mais abrangente, o artigo sobre T. S. Eliot procura mostrar de que maneira certas obsessões recorrentes em sua obra ajudam a compreender o famoso poema The waste land. Em outro nível, encontramos, no artigo As rosas e o tempo, não um autor, mas um tema, o do convite amoroso como superação do tempo voraz, apresentando exemplos que vão de François Villon no século XV a Baudelaire no XIX. Num texto curto é discutida a posição ideológica de Ezra Pound, vista como eventual desnorteio de um poeta potencialmente radical. Outros artigos abordam o conjunto da obra de determinados autores, como o que procura caracterizar a arte abrangente de Stendhal, capaz de satisfazer as expectativas tanto do leitor interessado na psicologia dos personagens, quanto do leitor mais voltado para os aspectos sociais. Outra obra comentada no todo é a de José Lins do Rego, autor que parece realizar-se melhor quando supera as fixações da memória a favor de um realismo mais impessoal. Também a obra de Nietzsche é vista em conjunto, num artigo de 1946 que causou certa estranheza em momento ainda próximo do nazismo, quando o filósofo era frequentemente associado ao pangermanismo agressivo.
Em O observador literário aparece pela primeira vez o interesse do autor por uma espécie de retrato, no qual procura caracterizar a personalidade de escritores, mas também de pessoas obscuras, marcadas por traços que as tornam significativas e não raro exemplares. Cabe nesta chave a combinação de obra e biografia, que aparece nos casos de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Giuseppe Ungaretti, Vinícius de Moraes. Caso especial é a evocação de um jovem voluntário morto em combate na Guerra do Paraguai, visto por meio das cartas incorretas e tocantes que escrevia à família.