Ensaios sobre as obras de vários escritores e ensaístas brasileiros.
Fora de estoque
Os ensaios deste livro estão organizados em duas partes, a primeira das quais começa por um apanhado geral sobre a obra de Machado de Assis, mencionando algo da sua fortuna crítica mas, sobretudo, acentuando a modernidade singular desse escritor, por meio do levantamento de temas centrais em sua ficção. Segue um escrito sobre Oswald de Andrade, no qual se misturam evocações pessoais e uma tentativa de reavaliação da obra. Vem depois a leitura da poesia de Carlos Drummond de Andrade à luz de inquietações de cunho individual e de cunho social, admiravelmente estilizadas, bem como da “procura da poesia”, encarnada exemplarmente no poema que tem este título. Continuando no âmbito da produção literária de Minas Gerais, Antonio Candido aborda, num longo ensaio, o tema do jagunço, começando pelo seu nascedouro no poema “Vila rica”, de Cláudio Manuel da Costa e vindo até Guimarães Rosa, cuja obra é discutida sob este aspecto, com destaque para a passagem do elemento documentário à transfiguração criadora. O Uraguai, de Basílio da Gama, é objeto do texto seguinte, que aponta o seu caráter inovador no tema do conflito de culturas, versado com uma liberdade e uma compreensão que parecem entrar em choque com o desígnio expresso de combate aos jesuítas. Basílio da Gama aparece também no último escrito desta parte, que aborda a dimensão civilizadora da sociabilidade literária no século XVIII brasileiro. Neste escrito o autor pensa ter solucionado um velho problema da nossa historiografia literária, ao demonstrar a existência da controvertida Arcádia Ultramarina.
A segunda parte começa pela exposição sobre o direito à literatura, vista em sentido amplo como necessidade social inevitável e constituindo, em consequência, um bem que a todos deve ser proporcionado. Segue um ensaio sobre o que o autor denomina
“radicalidade de classe média”, tendo como pano de fundo a atividade abolicionista de Joaquim Nabuco e culminando na análise de A América Latina, de Manoel Bonfim. Constam de outros escritos a discussão sobre as vicissitudes do conceito de nacionalismo no Brasil e a evocação do papel da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo em nossa cultura, inclusive por ter deslocado o enfoque dos estudos sociais das
classes dominantes para as classes dominadas, além de contribuir para a análise do grave problema do preconceito racial. Encerram o livro dois perfis: o de Sérgio Buarque de Holanda, a partir da sua experiência na Alemanha, e o de Paulo Emilio Salles Gomes como inspirador e militante político.