No final dos anos de 1980 quando a Ouro sobre Azul sequer sonhava em existir, a designer que a fundou, e tenta mantê-la – em meio ao mar de obstáculos e indiferença ao livro e à cultura que sempre inundaram o Brasil – se via totalmente dedicada a burilar as possibilidades como projetista gráfica. Ainda não tinha percebido que gostaria, também, de editar livros, ela mesma, e fazer da ficção literária um 3º canal para sua necessidade de expressão. É quando surge, nesse longínquo século XX, a Casa Maria Editorial na busca de serviços profissionais propondo, em boa medida, parte do que essa designer sempre tentara fazer: dar feição diferenciada a uma editora para dotá-la de identidade visual própria. A ação iria ser parcial já que os miolos dos livros não seriam confiados à designer, só as capas. Mesmo assim, a alegria foi grande e, durante um tempo infelizmente breve, como breve foi a vida da Casa Maria Editorial, a designer pôde trabalhar com a liberdade de certa forma expressa na capa de A história do mundo pela mulher, da inglesa Rosalind Miles, solução absolutamente fora de qualquer expectativa se considerado o momento em que foi proposta. A ideia – o tempo não tendo esgarçado a memória de quem a teve – era dar corpo à convicção profunda de que o mundo apenas se livrará de certas tendências destrutivas, que o acompanham desde o princípio do tempo histórico, quando a mulher conseguir, de fato, oferecer ao ritmo dos acontecimentos uma outra forma de tocar a vida na Terra, derivada de sua natureza, em tantos aspectos diversos da natureza masculina. No plano restrito das individualidades e no plano coletivo da organização social dessas individualidades. Nesse contexto, o projeto de capa para A história do mundo pela mulher foi concebido como um grito, uma explosão gráfica que pretendia valorizar, a plenos pulmões, a voz, de quem costuma ser ouvida apenas em surdina.
