Cabra marcado para morrer

Ainda na série do projeto de identidade visual feito pela Ouro sobre Azul para os dvd’s do IMS, Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho, se destaca pela trajetória pouco usual tanto no que se refere à acidentada realização quanto ao sucesso de estima que lançou o autor como dos mais respeitados documentaristas de seu tempo, dono de uma obra que, a partir do Cabra, não cessou de surpreender pela originalidade e pela inteligência com que cerca o objeto que propõe tratar. O filme, feito em dois momentos, separados por um intervalo de 17 anos, teve as tomadas interrompidas no dia 31 de março de 1964 e as latas guardando o material filmado – altamente subversivo a partir do golpe militar –, passearam da caverna em uma encosta nordestina, onde ficaram escondidas por certo tempo, às mãos da funcionária de uma empresa de finalização cinematográfica no Rio de Janeiro, depois de passar algum tempo embaixo da cama de um general, pai de outro cineasta, amigo de Eduardo Coutinho.

Quanto à feitura, a maneira como o diretor uniu os dois tempos – um filme de ficção que acabou se transformando em documentário – resultou num clássico, cumprido o estafante processo de busca, anos e anos depois dos personagens registrados no primeiro segmento. E graças à forma como foi estruturado e à aderência à causa dos despossuídos, que a narrativa exprime com maestria, registrando dois momentos de vida de um grupo familiar marcado de maneira trágica pela perda traumática do chefe – Cabra marcado para morrer vem sendo considerado uma obra prima do moderno cinema documental. Ter se preparado para participar, ainda que de forma modesta, de um produto que retrata experiência de tal quilate, mostra o propósito da Ouro sobre Azul de estar sempre próxima, com sua técnica, daquilo que melhor se produz no setor da cultura, em nosso país.

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