CBC

No final dos anos de 1970 nossa jovem designer sentiu necessidade de dividir um pouco a solidão profissional, indo atrás de alguém que pudesse ajudá-la a enfrentar a quantidade crescente de encomendas, das quais não estava dando conta sozinha. Como acontece frequentemente no decorrer da vida, o dedo da providência pôs no caminho dela uma estudante do setor – Cynthia Leite Araújo – que, além de talento plástico inato tinha grande habilidade manual, condição importante para enfrentar as etapas de arte-finalização dos projetos, num período anterior à era digital, quando o trabalho do designer gráfico exigia extremo artesanato em todas as etapas: dos layouts à preparação dos originais para a fabricação.

Por outro lado, no tocante à fisionomia, o mercado da produção cultural no Brasil, naquele momento – campo de atuação privilegiado por nossa jovem designer – o cinema brasileiro era dos bons clientes e se apresentava a ela de forma constante. Assim, quando um grupo de realizadores e técnicos cinematográficos do campo da exibição se juntou para fundar a Cooperativa Brasileira de Cinema, a identidade visual da iniciativa foi confiada justamente à jovem designer. Esse grupo, formado por cerca de 40 profissionais do setor, que se uniram em 1978 para dar corpo à ideia, chegou a arrendar 10 salas de exibição no Rio de Janeiro e algumas outras fora.

Infelizmente a iniciativa teve vida curta mas o trabalho exposto hoje aqui reteve, no plano gráfico, um pouco do que se pretendia. Para atender à necessidades tão diferentes entre si como identificar as fachadas das salas de exibição integrantes da Cooperativa, informações internas necessárias ao funcionamento de cada uma e papéis de cunho institucional, por exemplo, a solução adotada foi o desenho de um alfabeto estêncil nas duas caixas: a alta e a baixa e o símbolo da Cooperativa – cbc – derivou naturalmente dessa decisão.

O recurso permitido pela técnica do estêncil tornava possível, ainda, a impressão direta da informação sobre qualquer superfície com textura minimamente regular, em ocasiões em que a escassez de recursos não permitisse soluções dispendiosas.

Além do que vai aqui, como amostra desse projeto, foi proposto um sistema de cor, uma palheta variante do verde, amarelo e azul nacionais, que infelizmente não nos foi possível mostrar por que os exemplos foram consumidos pelo tempo. E fica ainda, como informação, no tocante à disponibilidade dos recursos técnicos disponíveis para uma empreitada desse tipo, que nos idos de 1978, cada uma das letras do alfabeto, nas duas caixas, foi desenhada a régua e compasso na etapa de layout, e posteriormente arte-finalizada a nanquim sobre papel Schoeller, necessidade para a qual a jovem designer contou muito com a destreza manual de Cynthia Leite Araújo, que viria a acompanhá-la por muito tempo na vida profissional chegando mesmo a se tornar sócia, por um período, da A3 Programação Visual, empresa fundada pela jovem designer, Evelyn Grumach e Heloisa Faria no ano de 1980, com atuação constante no Rio de Janeiro por longos 16 anos.

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