Obra imatura

Em Obra imatura, a Ouro sobre Azul continuou dando corpo ao projeto gráfico definido para a coleção Mário de Andrade e, assim, capa e miolo seguem os mesmos traços fixados para o tratamento do conjunto, marcando-o como um todo homogêneo, claramente identificável. Nesse livro estão presentes três dimensões da personalidade múltipla e originalíssima de Mário: a dimensão do poeta – Há uma gota de sangue em cada poema (1917) –; do contista – Primeiro andar (1926) –; e do ensaísta A escrava que não é Isaura (1925). Frente ao quadro, como o pobre designer iria dar conta de resumir, na concisão necessária à uma capa de livro, esse mundo díspar de sentidos? E aí entramos no terreno do arbitrário, tão caro à expressão artística.

A imagem escolhida foi uma fotografia do grupo de caçadores Os conjurados, em Porto Alvorada, barranca do Paranapanema, Pio Lourenço, o líder, em pé, à frente de todos. O registro, de 1926, é contemporâneo de Primeiro andar e de A escrava que não é Isaura, trazendo, portanto, um ar do tempo, além de mostrar o grande amigo e
contraparente, Pio Lourenço Corrêa, com quem Mário se correspondeu de 1917 – ano do lançamento de Há uma gota de sangue em cada poema – até a morte, no começo de 1945. Nesses termos, a solução da capa de Obra imatura emerge como se o designer tivesse mirado no que viu para atingir o que não viu sem, por isso, trair o compromisso de imprimir senso plausível ao volume editado.

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