A partir de hoje e por alguns dias seguidos, a Ouro sobre Azul vai mostrar aqui os projetos de uma jovem designer – muito, muito jovem, mesmo – recém saída do curso superior e bastante amedrontada frente a um mercado completamente desconhecido para o qual a formação acadêmica não a havia preparado. Foram dez anos de um trabalho absolutamente solitário, quando ela não tinha com quem conversar para situá-la diante da própria produção, período no qual tentou driblar um pouco as fragilidades que o aprendizado na ESDI Escola Superior de Desenho Industrial tinham lançado no seu caminho. Nesse intervalo acabou se preparando um pouco para uma nova etapa do desenvolvimento profissional, quando iria ganhar a segurança técnica necessária para um desempenho mais pleno. Então fundou uma empresa, depois outra e depois uma terceira – a Ouro sobre Azul – e nesse percurso pôde contar, nas duas primeiras experiências, com a companhia decisiva de designers como Cynthia Leite Araújo, Evelyn Grumach e Heloisa Faria a quem deve muito do amadurecimento profissional, graças à longa convivência que teve com todas. No tocante à capa do livro de Alberto Dines Posso? – tratava-se, se não me falha a memória, do nome de um dos contos do livro onde um judeu pedia licença para entrar em contato com um conjunto de liturgias da religião católica. Para buscar a solução da capa chamamos o fotógrafo Pedro Oswaldo Cruz que registrou a porta frontal entreaberta da igreja da Candelária. Isso, no primeiro semestre de 1972. A partir da escolha de um dos registros da porta, partiu-se para repeti-lo de maneira a criar uma superfície na qual contasse menos a unidade e mais o conjunto resultante da repetição dela. Essa “unidade multiplicada” foi bastante usada pela jovem designer em outros trabalhos nesse primeiro momento de vida profissional, quando ela pôr fim a abandonou, indo atrás de outros motivos que vêm se sucedendo no tempo, até hoje.